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De bolos solados à alta confeitaria

Foto do escritor: Márcia CarneiroMárcia Carneiro

Ela tem 45 anos, é divorciada e mãe de três filhas: Bruna, 22; Júlia, 17; e Beatriz, 13. Aos 32 anos, ainda casada, tomou a decisão de sair do emprego estável – de uma década e onde estava construindo uma promissora carreira como organizadora de eventos –, para ser mãe em período integral. Mal sabia ela que essa virada em sua vida iria revelar um talento desconhecido que, sabiamente, ela transformou em profissão. Essa mulher corajosa e de fibra, chama-se Rosane Oliveira.

E é contando a sua história que inauguro a nova seção do meu blog PODEROSAS.COM, sobre mulheres que não têm medo de correr atrás de seus sonhos e inspiram outras mulheres a ir à luta. “Eu acredito que realizar sonhos depende exclusivamente de nós mesmos. Não é coisa do acaso, ou questão de sorte. É resultado de muita batalha”, sentencia ela.

Quando Rosane decidiu parar de trabalhar, em 2009, ela havia acabado de ter a sua terceira filha. Ela andava estressada, muito cansada e sem energia. Acostumada a trabalhar e ser independente financeiramente desde os 18 anos, esta não foi uma resolução fácil para ela. Lembro muito bem, pois nessa época eu era sua chefe. Ela veio meio sem jeito falar comigo. Minha primeira reação foi tentar demovê-la daquela ideia, pois acreditava em seu potencial como profissional da área de Comunicação. Mas, alguns minutos depois, ouvindo suas ponderações, entendi que era o que ela precisava fazer naquele momento. E ainda bem que fez.

De lá para cá, sempre mantivemos contato e pude, mesmo à distância, acompanhar a nova trilha que o universo começou a desenhar para a sua vida. Como eu havia imaginado, assim que ela se recuperou de um princípio de AVC, causado por um grave hipotireoidismo – um dos motivos que a afastou do emprego – e já mais acostumada com a rotina de criar suas três meninas, Rosane passou a sentir falta de ter um ofício.

Afinal, trabalhar fazia parte de sua natureza inquieta, de seu DNA. Ela chegou a fazer contato comigo, para verificar se havia alguma vaga disponível. Mas, infelizmente, naquela ocasião, não tive como ajudá-la. Passado algum tempo, fiquei sabendo que ela estava fazendo doces. “Rosane fazendo doces, sério?”, me perguntei, ao lembrar que ela não demonstrava nenhuma aptidão para aquela especialidade. E foi, a partir daí, que ela me contou, com mais detalhes, sobre a construção de sua carreira como confeiteira profissional.


Mãe em tempo integral

“Meus bolos sempre saíam solados”, confessa Rosane Oliveira, rindo de si mesma. “Nunca iria imaginar que me tornaria confeiteira”. O dom estava lá, escondido em algum lugar. Mas onde, se ela não herdou esse talento de ninguém? “Sou a primeira geração da família que faz doces”, conclui, com orgulho.

Rosane ao lado de suas três filhas: Beatriz, Júlia e Bruna (da esquerda para a direita).

Como estava em casa, totalmente dedicada à criação das filhas, achou que poderia se aventurar em fazer, sem grandes expectativas, algumas gulodices para as meninas. “Minha profissão era ser mãe em tempo integral. E queria fazer o meu melhor. Assim, passei a cuidar das festinhas de aniversário delas, nos mínimos detalhes”. E foi a vontade de se superar, para agradar as filhas, que a levou a fazer o primeiro curso nessa área: o de modelagem de doces. “Eu adorei! E meus amigos e família também. Com tantos elogios, acabei me sentindo estimulada a continuar”, recorda-se, destacando que, para ela, aquilo nada mais era do que um mero passatempo.


Divorciada, e agora?

Mal sabia Rosane que o que havia começado como diversão iria tornar-se sua fonte principal de renda. Em 2013, enfrentou o processo traumático de um divórcio e, de repente, assim, da noite para o dia, tornou-se a única no comando da casa. Rosane chegou a pensar em arrumar um emprego fixo, na área em que havia trabalhado. Mas fazia mais de cinco anos que estava sem atuar no mercado. Foi, então, que resolveu ouvir a voz do coração e apostou todas as fichas na confeitaria.

“Todos, amigos e familiares, falavam que eu havia nascido para fazer doces. De tanto falarem, acabei acreditando e fui em frente”, relembra com um sorriso largo no rosto. Quem já passou por uma separação sabe das angústias e dificuldades que isso traz. Mas nada disso foi suficiente para impedi-la de ir atrás de algo novo, incerto, mas que enchia seu coração de satisfação. E ela nem teve tempo de sentir muito medo, de vacilar. Um convite inesperado fez com que tivesse de arregaçar as mangas e, com a cara e a coragem, assumir uma pâtisserie que estava se reestruturando. “Ocupei a posição de confeiteira-chefe, onde permaneci por dois anos e meio. Foi a partir daí que percebi que a confeitaria já fazia parte da minha vida”.

Em paralelo, Rosane foi se especializando, fazendo cursos profissionalizantes e aprendendo novas técnicas que elevaram o padrão de seu trabalho à alta confeitaria. Realizou, inclusive, um sonho: fazer o curso de sobremesas na mais conceituada escola de confeitaria do mundo, a Le Cordon Bleu. “Foram momentos emocionantes e de muito aprendizado”, comemora, elencando algumas outras escolas pelas quais passou: SENAI, SENAC e Atelier e Escola Cecília de la Fuente, entre outras.


Paixão pela confeitaria

Depois do primeiro desafio vencido, Rosane abraçou outros em diferentes restaurantes, além de se tornar fornecedora e consultora de algumas casas. “É preciso muito amor para encarar esse ofício.” A confeiteira destaca que esta é uma profissão cansativa, que exige um bom preparo físico e muita atenção, além de talento, é claro. Faz parte da rotina de um profissional ter de ficar o dia inteiro em pé, em um ambiente muito quente, aquecido a mais de 40ºC, devido à alta temperatura dos fornos. “Mas é isso que me dá satisfação. A cada vitrine de doces montada, a cada elogio de cliente, me encho de emoção”, revela.

Após 12 anos de atuação nesse segmento, Rosane ainda é apaixonada pelo que faz. No entanto, ela observa que o mercado não dá o devido valor à profissão. “Não tem nada a ver com o glamour dos realities shows, onde mostram confeiteiras lindas, maquiadas e muito bem-arrumadas. Essa não é a nossa realidade”, conta, finalizando que sua atuação se dá mesmo nos bastidores e sua maior emoção é oferecer o melhor bolo e o melhor doce para os momentos especiais de seus clientes. “É isso que faz a diferença em meu trabalho. É isso que faz o meu coração bater mais forte.”

Ficou com água na boca? Corre lá no Instagram da Rosane Oliveira e faça a sua encomenda: @rosaneoliverconfeitaria.




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